A (possível) ordem natural das coisas.

Reparando bem, mas, bem mesmo, como nós mudamos. Não é?

Bem, talvez essa não seja uma verdade absoluta. Pode ser apenas mais uma regra, com as suas exceções, e é claro que não posso falar por todos, mas, se o que observei em mim, for um mecanismo biológico presente em todos os humanos, repito, como nós mudamos!

Dos detalhes até os grandes gestos.

Fui reparando, sem querer mesmo, inicialmente... Chegou um dia na minha vida, em torno de meus anos de adolescente, não sei bem a idade, em que achei que eu já era alguém. Já tinha preferências e valores morais bem definidos. Já sabia qual tipo de "cara" me agradava mais, já sabia reconhecer amigos, tava decidindo minha carreira, tinha ambições pro futuro... E tinha um equilibrio sentimental bastante razoável. Daí, achei que já era alguém.

Ah, mas ainda haviam tantas coisas para viver, e aprender!
Passaram alguns anos. Poucos anos... E, sem querer, notei que eu sou alguém só agora.
Mas ainda há tanto para conhecer!
O que me faz pensar se, daqui a alguns outros poucos anos, chegarei a esta conclusão novamente.

Me baseando nos pilares da minha personalidade, eu não posso dizer que sou outra pessoa. Carrego os mesmos valores morais, as mesmas cismas, as mesmas convicções, preocupações e medos que me foram ensinados desde a infância. Porém, o que mudou é o meu olhar.
Passei a enxergar nuances. E a cada dia mais... A cada dia, mais.

Hoje sinto de forma absolutamente diferente.

Embora já tivesse plena consciência do seu papel, a família hoje, pra mim, tem outra importância, me gera outros sentimentos, uma ternura, uma gratidão, que, antes era só racional. Estava só na minha mente...
As amizades, os amores, tudo ganha nova proporção. Um novo peso.

Hoje posso enxergar como minha vida não seria, sem mim. Enxergo o meu papel em cada revés, e em cada sorte cotidiana... Vejo a importância de ter reconhecido os meus amigos, cada um deles (como disse Vinícius de Moraes "A gente não faz amigos, reconhece-os") e por ter sido conquistada por eles, e reconquistada, e ter tido que reconquistá-los a cada eventual tropeço, a cada abandono...
E me alegro em saber que o destino, seja lá de que forma esteja escrito, me permitiu encontrar e reencontrar pessoas especiais, e não me permitiu perder esses momentos, por mais que eu tenha tentado evitar alguns. Ah, como eu me arrependeria se soubesse o que poderia ter perdido. Ainda bem que não o sei. Ainda bem que não perdi.

Abraços, sorrisos, lágrimas, soluços, arranhões, sonhos. Cada um em seu tempo, cada um em seu lugar, por mais que eu quisesse virá-los do avesso, e tirá-los do lugar.

No meu presente, nada mais é como antes. Amadurecer é preciso, e amadureci. É inegável, e inevitável. Pode ser protelado por alguns, e é. Mas jamais pode ser evitado.

O valor das coisas, e das pessoas, muda. Eu já sabia, mas não sentia.
As flores me chamam mais atenção. Por conta de seus detalhes, cada pétala, cada fragrância, cada cor.

Sei que cada lamento alheio traz uma história que, mesmo desconhecida, não deve ser negligenciada.
Cada tormento, cada alento, ou até o nada, tem um motivo. E por mais que eu não me interesse por todas, reconheço haver uma particularidade em cada tudo, e em cada nada.

E não são as coisas que mudam, repito, é o que sentimos, e como as olhamos.
O amor, pra mim, é a prova mais evidente, e recorrente do que estou dizendo. E ele não mudou. Continua lá, 
desde os tempos de Shakespeare, mas nós o sentimos de formas distintas a cada instante que passa.
Passamos de adolescentes apaixonados pela idéia do amor, para jovens interessados no que o amor pode, de fato, nos dar, e daí a adultos que amam, por amar.
Expectativas sempre existem, porém, ama-se para amar, para se doar, sem, apesar de esperar, saber se haverá em troca o que queremos. Por que a recompensa sempre há, mas nem sempre é a que imaginávamos, ela pode ser melhor. Quando barganhamos sentimentos e dedicação, não se chama amor, chama-se interesse. E isso, em grande parte já ficou pra trás, embora, por vezes, eu o veja tentando me dominar.

Cada um de nós tem seus afetos. E os desafetos. As preferências, as inocências...
E cada um tem seu grau de frieza, o meu sempre foi bastante acentuado, embora eu não apreciasse, obvio, a frieza alheia, dos alheios queridos.
Mas aprendemos a nos equilibrar exatamente no centro de tudo isso, para viver melhor.

Desdenho quando ouço pais que desejam ter filhos por acreditarem estar colocando no mundo uma "apólice de seguros", quando vejo amigos que só o são quando precisam de ajuda, e quando vejo amores narcisistas!
Mas me alegro quando vejo ternura e amizades gratuitas, e amores que, mesmo em meio a toda loucura e intensidade de uma paixão, são capazes de permitir a evolução pessoal, e acrescentar serenidade a vida das pessoas.

E entre alegrias e tristezas, a saúde e a doença, o amor e a indiferença, as mudanças vão ocorrendo... 
Nada de grandes promessas para 2011. Não há motivo para se limitar, e no andar da carruagem novos horizontes vão sendo descobertos. As mudanças ocorrem a cada dia.
No decorrer da minha história percebi que, constante é a necessidade de me preparar, em vez de permanecer apenas arquitetando o sonho. E sigo aprendendo tantas outras coisas, que só o tempo é capaz de me ensinar.

E, agora, voltei a imaginar, quando será que atingirei a plenitude de ser alguém, de fato?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Quem não se dedica se complica"

Quer saber o que eu penso?

Aniversário.