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Como eu fazia?

 Eu já nem me recordo mais se começava meus textos pelo título, ou se os criava por último. Eu reli algumas linhas aqui e, se encontrasse os escritos em qualquer outro lugar, nem os reconheceria como meus... E nem quero dizer que mudei tanto apenas notei que nos esquecemos de muitas coisas pelo caminho. Os momentos em que eu mais precisava me expressar e escrever passei, justamente, calada. Olho pra trás e vejo um abismo, um buraco inexpressivo e quase inexistente, não fosse por tudo que senti e ainda sinto, que sempre estará dentro de mim, resultado de tudo que vivi. Sou constantemente pega de surpresa por memórias, risos, choros, desesperanças ou arroubos de motivação... Quase não sabia mais que tudo isso ainda estava ali, apesar de perceber diariamente que isso tudo ainda está ali. Quanto tempo de vida podemos passar sofrendo pelas mesmas questões, presas nas mesmas armadilhas... Chegando às mesmas conclusões, tomando semelhantes decisões e repousando na mesma inércia?! Tempo demais

Atavessando o oceano em uma banheira

A necessidade de tomar decisões nem sempre vem acompanhada de tumulto, falta de opções e barulho. Aquela sensação já era familiar, uma brisa suave e o céu laranja ao entardecer... Poderia seguir para qualquer direção que quisesse, com rapidez ou lentidão, mas sabia que a calmaria poderia se tornar ressaca a qualquer tempo. Contemplava o oceano e suas infinitas possibilidades, se paralisava ao lembrar da fragilidade em estar cruzando-o em uma simples banheira. Como tantas vezes na vida, a facilidade em poder contabilizar as chances de fracasso a impedia de se afastar da praia, ainda que a ânsia por chegar em outros lugares dominasse sua mente diariamente. Antes de se atrever a remar foi se deixando guiar pela correnteza e se lembrou de todas as vezes em que aquela sensação assustadora a impediu, sabia que a qualquer momento poderia cair no mar, poderia passar dias à deriva antes de encontrar o que procurava, poderia até mesmo chegar aonde nunca imaginou e, nunca se sabe, se iremos a

O convite

"Não me interessa o que você faz para viver. Quero saber o que você deseja ardentemente, e se você se atreve a sonhar em encontrar os desejos do seu coração. Não me interessa quantos anos você tem. Quero saber se você se arriscaria a aparentar que é um tolo por amor, por seus sonhos, pela aventura de estar vivo. Não me interessa quais os planetas que estão em quadratura com a sua lua. Quero saber se você tocou o centro de sua própria tristeza, se você se tornou mais aberto por causa das traições da vida, ou se tornou murcho e fechado por medo das futuras mágoas. Quero saber se você pode sentar-se com a dor, minha ou sua, sem se mexer para escondê-la, tentar diminuí-la ou tratá-la. Quero saber se você pode conviver com a alegria, minha ou sua, se você pode dançar loucamente e deixar que o êxtase tome conta de você dos pés à cabeça, sem a cautela de ser cuidadoso, de ser realista ou de lembrar das limitações de ser humano. Não me interessa se a história que você está con

Entropia.

Fazemos o que tem de ser feito, e a natureza sempre flui para onde deve seguir. Nós temos escolha, pensamos, desistimos, nos preocupamos, repetimos... Já a natureza apenas flui, inevitavelmente. E nossa vida segue esse fluxo natural inescapável, apesar de toda e qualquer tentativa oposta aplicada diariamente por nós. Resistência. Nós resistimos ao que é, pois temos a nossa disposição os mais variados cenários mentais do que deveria ser. Deveria ser, mas não é. Mas deveria. Então eu queria... Eu quero. Logo, não posso me permitir fluir de acordo com essa maré de absurdos dissonantes com minhas projeções. E então me resta agir, espernear, pedir, mandar, solicitar, sofrer, questionar... Fugir. Fugimos do inevitável, e em vez de desenvolvermos meios para lidar com o que é, preferimos lutar pelo "e se". E não travamos uma batalha focada no presente/futuro, lutamos pelo "se" do passado. Desejamos tão ardentemente que as coisas não tivessem sido como foram, e não s

Unguento

O tempo é como o vento, leva todos os lamentos... Dos dias frios fica a saudade, dos quentes algum tormento. Saudades do que vi, imaginei ou senti. Não apenas do que vivi. Projetei cenários, simulei, cri. Esperei, contruí, desmorei... Desejei, mas não parei por aqui. Desconstrução, reformulação, alguma condescendência... Um ou dois copos, vinho, suco ou água benta. De toda forma o líquido faz movimentar a correnteza. Correnteza dirigida pelo vento que, nem notei, já se encarregou da minha tristeza.

Ornar.

Saltos ornamentais, cotidianos mentais. Saltos e alguma perseguição. Confusão e muita resignação. Desconhecimento, emburrecimento e falta de treinamento. Usar as palavras com a atenção que elas exigem, conhecê-las todas... Antônimos, sinônimos, acrônimos, atônitos... Buscar o que já está ultrapassado, e reinventar. Atualizar, só que não. rs Abreviar, atenuar, modificar até extenuar. Quem não encontraria diversão em ler um dicionário?! Ou quem encontraria? Acho que encontrei. Ainda há tanto a descobrir e tanto a esquecer. Imaginar, recriar, deduzir, amadurecer... Um livro a acrescentar, tomar emprestado, devolver, não estragar. Expor, repetir, reutilizar, doar. Ornou? Ornei. Adorei, vou comprar.

Ano novo?

Tempo, tempo, não tenho tempo. Atrasado ou adiantado... Só sei o que está marcado. O tempo como medimos é invenção, artifício humano, pura ilusão. Sem eletricidade provavelmente acompanharíamos o ritmo das galinhas, regulados por puro capricho da melatonina... Estar sempre atarefado, agitado, regulado... Nem sempre é proveitoso. A ocupação acalenta o ego, seu fruto é, muita vezes, um engodo. Perder o tempo ou o ganhar, parece justo assim classificar. Porém enquanto altercamos a vida está aí, o mais razoável, para mim, é apenas usar.